Projeto de escola em Nova Iguaçu: boa hidraúlica não dispensa captação de águas pluviais e tratamento de esgoto. Autores: SPUr & DDG (projeto de arquitetura), Projem LTDA. (instalações prediais) e OIA (bio-sistema integrado). Foto: Raul Bueno.
Materiais de construção comuns — comercializados nas cidades brasileiras — podem ser usados de modo inteligente. No texto anterior, vimos que um bom projeto de arquitetura já reduz o desperdício e torna a obra mais barata e ecológica, seja o de uma casa ou de um bairro. Mas queremos que a economia continue depois do término da construção.
Por exemplo, como economizar 30% no uso da água?
É relativamente fácil. No lugar de ter apenas um sistema de abastecimento de água, podemos ter dois: um comum, que fornece água tratada e vêm da companhia de abastecimento, e outro que captura água da chuva, chamado de captação de águas pluviais.
Algumas escolas projetadas pela equipe da qual fiz parte em Nova Iguaçu usaram essa solução, que impacta quase nada o custo do projeto.
É verdade que os gastos com material aumentam, pois é necessário usar o dobro de tubos e conexões, de caixas d’água e de cisternas, além de outros equipamentos, como um filtro para remoção de folhas acumuladas no telhado. Mas a diferença é de apenas 3% no valor total da obra. Esse investimento extra volta em cerca de 6 anos. Depois, é só lucro.
E quanto ao esgoto? Trata-se de outro ponto de alto impacto das ocupações humanas. Dá para melhorá-lo? Sim, é simples criar um sistema mais eficiente e que até gera uma pequena renda mensal para os moradores.
Antes de tudo, criamos um sistema de esgotamento onde se separa três categorias: o esgoto primário, proveniente dos vasos sanitários e mictórios, o esgoto secundário (água das cubas, chuveiros, tanques de roupa) e o decorrente do excesso de águas pluviais. Quanto mais puro for o esgoto primário, mais fácil é tratá-lo. Concentrar o pior tipo de esgoto pode parecer esquisito, mas felizmente não é fedorento e permite que ele seja utilizado para geração de gás.
A ong IOA, em petrópolis, com seus “reatores anaeróbios de fluxo ascendente“, ou, para simplificar, biodigestores, transforma resíduos animais e vegetais em biogás. Em uma comunidade carente, por exemplo, o resultado foi usado para abastecer a cozinha de uma creche. O investimento para a construção desse mecanismo é um pouco mais do dobro daquele gasto na construção de uma fossa séptica. No entanto, a sua manutenção é 10 vezes mais barata e ainda gera uma economia de 50 reais por mês.
Estas são duas dicas simples. Embora não chamem atenção, podem ser executadas em qualquer lugar e são a alma de um edifício inteligente.
Semana que vêm continuamos com outras idéias para materiais de construção comuns. O que escolher? Cimento ou madeira, cerâmica ou isopor?
Raul Bueno mora no Rio de janeiro e é um ciclista inveterado. Só falta pedalar da Urca ao Fundão. Além disso é Arquiteto Urbanista, trabalha na Defournier & Associados e leciona no Bennett e na FAU-UFRJ.